A PROPOSTA
A proposta inicial era uma biblioteca móvel, mas avaliando o projeto com uma visão crítica, detectei alguns problemas que invibializariam meu projeto. Neste contexto, analisando as caraterísticas da comunidade e a estrutura que uma biblioteca precisa, ocorreu a mudança do projeto. Mas o foco cotinuou sendo levar conhecimento e entretenimento a comunidade de Roça Grande.
A partir daí foquei no bairro Rosário III. No dia 31/10/2009, na segunda visita que fiz, encontrei com Dª Aparecida, DªMaria, DªConceição e Dª Socorro ao lado da Igreja Santuário de Santo Antônio de Roça Grande. Perguntei a elas o que estavam fazendo ali e elas me responderam: “estamos esperando doações. Aos sábados, domingos e terças-feiras recebemos doações de roupas, alimentos e calçados”. Perguntei a elas quais delas moravam no Rosário III. Todas afirmavam que moram no bairro. Fiquei curiosa com um fato: será que a população que mora na parte baixa de Roça Grande é tão carente quanto a população do Rosário III? Onde devo implantar minha biblioteca?
Das 20 mulheres que conversei, nenhuma tem o 2º grau. Duas são analfabetas e as outras têm o primário. Fiquei triste! Como meu projeto pode ajudar essas pessoas e a comunidade? Fiquei me perguntado várias vezes. Resolvi caminhar mais um pouco até o Cruzeiro e lá encontrei o Wesley de 17 anos, que não tinha completado o ensino fundamental. Logo perguntei a ele: o que você acha de ter uma biblioteca comunitária na parte baixa de Roça Grande? Ele, meio cabisbaixo, me respondeu: acho muito legal, mas a população da parte baixa de Roça Grande não precisa de uma biblioteca. Agora aqui em cima sim, precisa. Isso me chama a atenção ao termo Gentrificação, o enobrecimento urbano, ou gentrification, diz respeito à expulsão de moradores tradicionais, que pertencem a classes sociais menos favorecidas, de espaços urbanos e que subitamente sofrem uma intervenção urbana. Esses processos são criticados por alguns estudiosos do urbanismo e de planejamento urbano devido ao seu comum caráter excludente e privatizador.
Segundo o sociólogo Richard Sennett da Universidade Harvard, consideram demagógico o caráter das críticas, argumentando que problemas urbanos não se resolvem com benevolência para com as camadas mais pobres da população e, na sua opinião, só se resolvem com alternativas que reativem e recuperam a economia do local degradado.
Vi duas crianças brincando de bola em um antigo campo de futebol (hoje a prefeitura aterrou, para fazer uma via) e cheguei perto delas. Novamente perguntei a elas: vocês gostariam de ter uma biblioteca para fazerem seus deveres? Uma delas, meio curiosa, me respondeu que sim.
A biblioteca traria conhecimento para as crianças do bairro e, ao mesmo tempo, a valorização da coletividade. Mas existia outro problema. E as pessoas que não sabem ler, ficariam excluídas? Como a proposta não era esta, a partir daí defini criar um espaço denominado como “espaço do saber”. Um espaço apropriado para promover a alfabetização, contribuindo inclusão social deste público carente.
Dentro das pesquisas que fiz encontrei uma biblioteca comunitária na cidade de Brasília que funciona dentro de um açougue. A idéia deu tanto certo que hoje ela possui um anexo que funciona como ponto de ônibus. Além disso conseguiu com que todo acervo fosse doado.
Sobre o investimento na construção do prédio da biblioteca, em Roça Grande, a proposta seria utilizar da lei de incentivo fiscal. Fator que atrairia o interesse de empresas privadas pela obra. É o caso da Belgo Mineira, empresa que tem instalações na cidade de Sabará e já participou de vários projetos desta natureza. Sobre a mão-de-obra, esta seria feita através de um mutirão, formado por moradores de Rosário III.